terça-feira, 17 de maio de 2011

SE SE MORRE DE AMOR!




Se se morre de amor!

— Não, não se morre.

Quando é fascinação que nos surpreende.

De ruidoso sarau entre festejos.

Quando luzes, calor, orquestra e flores.

Assomos de prazer nos raiam n’alma.

Que embelezada e solta em tal ambiente.

No que ouve, e no que vê prazer alcança!

Simpáticas feições, cintura breve.

Graciosa postura, porte airoso.

Uma fita, uma flor entre os cabelos.

Um quê mal definido, acaso podem.

Num engano de amor arrebatar-nos.

Mas isso amor não é.

Isso é delírio.

Devaneio, ilusão, que se esvaece.

Ao som final da orquestra, ao derradeiro.

Clarão, que as luzes no morrer despedem.

Se outro nome lhe dão, se amor o chamam.

De amor igual ninguém sucumbe à perda.

Amor é vida.

É ter constantemente

Alma, sentidos, coração abertos.

Ao grande, ao belo; é ser capaz de extremos.

De altas virtudes, té capaz de crimes!

Comprender o infinito, a imensidade.

E a natureza e Deus; gostar dos campos.

De aves, flores, murmúrios solitários.

Buscar tristeza, a soledade, o ermo.

E ter o coração em riso e festa.

E à branda festa, ao riso da nossa alma.

Fontes de pranto intercalar sem custo.

Conhecer o prazer e a desventura.

No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto.

O ditoso, o misérrimo dos entes.

Isso é amor, e desse amor se morre!

Amar, e não saber, não ter coragem.

Para dizer que amor que em nós sentimos.

Temer que olhos profanos nos devassem.

O templo, onde a melhor porção da vida.

Se concentra; onde avaros recatamos.

Essa fonte de amor, esses tesouros.

Inesgotáveis, de ilusões floridas.

Sentir, sem que se veja, a quem se adora.

Comprender, sem lhe ouvir, seus pensamentos.

Segui-la, sem poder fitar seus olhos.

Amá-la, sem ousar dizer que amamos.

E, temendo roçar os seus vestidos.

Arder por afogá-la em mil abraços.

Isso é amor, e desse amor se morre!

Se tal paixão enfim transborda.

Se tem na terra o galardão devido.

Em recíproco afeto; e unidas, uma vida.

Dois seres, duas vidas se procuram.

Entendem-se, confundem-se e penetram.

Juntas em puro céu d’êxtasis puros.

Se logo a mão do fado as torna estranhas.

Se os duplica e separa, quando unidos.

A mesma vida circulava em ambos.

Que será do que fica, e do que longe.

Serve às borrascas de ludíbrio e escárnio?

Pode o raio num píncaro caindo.

Torná-lo dois, e o mar correr entre ambos.

Pode rachar o tronco levantado.

E dois cimos depois verem-se erguidos.

Sinais mostrando da aliança antiga.

Dois corações porém, que juntos batem.

Que juntos vivem, se os separam, morrem.

Ou se entre o próprio estrago inda vegetam.

Se aparência de vida, em mal, conservam.

Ânsias cruas resumem do proscrito.

Que busca achar no berço a sepultura!

Esse, que sobrevive à própria ruína.

Ao seu viver do coração, às gratas.

Ilusões, quando em leito solitário.

Entre as sombras da noite, em larga insônia.

Devaneiando, a futurar venturas.

Mostra-se e brinca a apetecida imagem.

Esse, que à dor tamanha não sucumbe.

Inveja a quem na sepultura encontra.

Dos males seus o desejado termo!

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